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Da moral, dos bons costumes e dos outros...

Não sei quando e nem como, mas em algum momento da minha vida eu aprendi que não valia a pena viver pelo que os outros pensavam ou falavam - eles sempre vão fazer isso. Não interessa quantas atividades ou problemas determinadas pessoas têm em suas vidas, elas simplesmente sempre vão arrumar tempo pra comentar, pensar e imaginar sobre a vida alheia, e isso é quase uma doença, porque ultrapassa um simples hobby. Elas realmente viajam naquilo. Inventam personagens, acontecimentos, incidentes e desfechos - é quase uma vida paralela, tipo um The Sims da vida real. Talvez elas simplesmente não saibam jogar. Vai saber...
O fato é que, por mais seletivos que tentemos ser, sempre vai haver pessoas pra apontar o dedo, não interessa o quanto a gente pense que nosso circulo de amigos são pessoas "de boa" que vivem a própria vida. A gente tá impregnado dessas amarras com as quais crescemos, e todas as porcarias que nos empurraram "goela abaixo". Tem machismo aos montes, tem homofobia disfarçada, tem racismo, tem preconceitos de todas as cores, tamanhos, e níveis... nem precisa procurar. Uma hora eles pulam, quando a gente menos espera. A gente só tem que estar preparado e saber lidar. E ter em mente que todos temos o direito de errar.
Às vezes eu me pergunto dessa tal de moral e bons costumes. Hoje em dia, tenho me perguntado bastante. Me parece que ser uma mulher separada fere algum desses dois. Ou os dois, não sei direito, pelo tanto de olhar torto, e, às vezes, até mais do que isso. Já ouvi tantos "Você deveria estar fazendo isso ou aquilo..." de tanta gente que não sabe 1/5 da minha vida...
"Desquitada". Até soa feio. Mas o mais irônico é que a ofensa não é pra mim - é pra sociedade! Que tal? A gente vira uma doença, um encosto, uma pomba gira, uma péssima companhia... e se chegar perto de uma amiga casada e ela estiver em crise no casamento, independente de há quantos anos... lascou-se! Imediatamente, a gente vira a imagem do demônio encarnado no juízo final! E, pasmem! Não interessa quantas traições o dito marido pode ter cometido! A desquitada imediatamente vira O motivo da separação. É só pra mim que isso soa extremamente absurdo? Se for, me internem, por favor... meus parafusos tão realmente meio soltos... É punk o negócio...
Mulheres separadas devem viver em "quarentena" por uns 3 anos, até elas tornarem-se frígidas o suficiente pra não oferecem qualquer risco pra sociedade e não ferirem a moral e os bons costumes da nossa sociedade super tradicional e conservadora, nesses anos de 2014. Até porque, não se pode esquecer que existe uma parcela da sociedade que é muito pura e casta, aquela parcela que casa de branco e virgem, em que jamais vemos alguém casando grávida(nunca!) ou sequer pela segunda vez(jamais!), verdadeiros santos no meio de pessoas tão impuras como nós - perdão, não me incluam entre vocês.
Hoje, alguns meses depois de ter-me separado, é a primeira vez que consigo escrever ou falar realmente sobre isso. Quando, pra mim, decidir me separar foi uma libertação por escolher pela minha felicidade, ao abrir mão de um casamento em que eu estava infeliz, pra todos os demais, pro meu espanto, foi decidir por ofendê-los, por quebrar todas as regras que eu não sabia que (ainda) existiam. "Você não tem esse direito", eles nos dizem. Ou então, simplesmente passam a te ignorar. É como se a gente deixasse de existir pra uma boa parte das pessoas que a gente costumava conhecer, cumprimentar, e, até mesmo, abraçar na rua. E, nessas horas, vc vê realmente, não apenas quem são seus amigos, mas quem realmente nutria qualquer sentimento verdadeiro por você. Muitas pessoas passam a virar as costas, sem se importar com o turbilhão de sentimentos que você possa estar passando. E, muitas pessoas, simplesmente agem como se você tivesse morrido pra elas. Outras, te esfaqueiam pelas costas - e dói, sangra, e você vai demorar meses a fio pra se recuperar.
E aí, você começa a enxergar. Muitas "amizades" são baseadas em aparências, moral, prestígio, religião, boa ou má fama...
E apontar o dedo é sempre muito, muito fácil... é um movimento simples, rápido, indolor. E prazeroso, porque, normalmente, dá uma sensação de superioridade deliciosa.
Bom, nesse sentido, sou muitíssimo grata ao meu pai, que desde sempre me ensinou que humildade é essencial, independente de qualquer coisa. Nada me torna melhor do que ninguém. Nada. E uma pessoa sem humildade sempre vai perder muitíssimos pontos com ele, e, consequentemente, comigo. Assim... esses momentos de "superioridade", eu passo a vez.
Hoje, como mãe, eu só consigo pensar no quanto eu temo pelos meus filhos. Eu temo pela possibilidade de eles crescerem com uma visão de mundo fechada como essa, temo por eles não se sentirem livres pra serem felizes e fazerem as próprias escolhas, sabendo que eu e o pai(espero, de coração) deles os apoiaremos e amaremos, incondicionalmente - de verdade. Que, de fato, o que vai importar é a felicidade deles, e não a minha expectativa ou - espero, mais uma vez - a do pai deles. E eu torço, mesmo, pra que eu não faça planos pra vida deles. Eu torço pra que eu saiba segurar a minha onda e consiga ser coadjuvante, e saiba simplesmente estar lá se/quando eles precisarem de uma ajudinha nesse planejamento, ou simplesmente assistir e estender os braços quando me forem solicitados.
Quanto às outras coisas...
Eu posso mudar de idéia. Ouvi isso outro dia. Mas hoje, o que eu penso é que essa vida é tão curta... o que pode ser mais importante do que ser realmente feliz? Digo, essencialmente, pra vida. Óbvio que eu quero aquilo que toda mãe quer... todo aquele caminho natural. Mas eu quero que, dentro de tudo isso, haja felicidade, e haja paixão, muita paixão, porque esse sempre foi o meu combustível. Eu não funciono sem paixão. Eu morro aos poucos. E espero que tenha pouquíssimo ou nenhum lugar pra preocupações tão pequenas como os pensamentos e comentários "dos outros". Porque, sinceramente, eu não tenho a menor idéia de quem são esses "outros" no jogo do bicho, e ainda não vi qual o papel deles na minha vida, assim como imagino que não terão qualquer um na vida dos meus meninos, que um dia serão homens.
Respeito quem vive por esses "outros". Acho que cada um tem direito de escolher pelo que viver. Cada um é dono de si. Não é isso? Assim como eu tenho o direito de escolher pelo que vivo. E, desculpa, "outros", mas não deu pra colocá-los na minha listinha. Além do mais, meus dedos costumam estar sempre ocupados pra eu retribuir-lhes o favor.

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