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Mostrando postagens de outubro, 2015

Não vamos falar sobre isso

Depressão. Convivo com a depressão diagnosticada há 5 anos. É uma doença que, quem tem, ainda sofre muito preconceito (é desacreditada, é invisibilizada, pouca informação), além de ser, geralmente, uma condição muito solitária. Geralmente, a gente vive num limiar entre estar vivo e não querer estar, ou perder as esperanças, ou as forças. É bem tenso, é bem pesado.  Diferente de algumas outras doenças não contagiosas, em que as pessoas mais próximas procuram entender melhor, a depressão geralmente causa um certo estranhamento e afastamento. Ninguém quer falar sobre isso . No máximo, vão perguntar como está indo o tratamento, e como você está no dia.  A questão é que, quando a pessoa faz um acompanhamento com psicanalista, muito provavelmente, ela vai começar a fazer reflexões. E, querendo ou não, todos nós estamos um pouco doentes. E a família tem um papel essencial nesse processo depressivo. Entretanto, a família, geralmente, é a que menos se envolve nesse processo de cura. A dinâmi

Por hoje

Hoje eu resolvi não chorar mais pela mesma ausência E não calar mais pelas mesmas opressões E não ser mais silenciada pela aparência Hoje eu resolvi gritar bem alto Decidi assumir minhas dores E viver meus traumas E não aceitar meios amores Ou esperar dever favores Hoje eu percebi um circo de horrores E quantas vezes me fui roubada Ou tantas vezes que me enterraram E todas as vezes em que pedi socorro E até aquelas que eu era só a carcaça Hoje eu lembrei dos dias em que eu me senti nada De toda uma vida mandada pro quarto Daquela voz que foi sufocada E uma força que já esteve aqui Hoje eu recordei que não foi só na ordem de nascer Mas foi toda uma inexistência Não foi só uma simbologia de palavras Era indigente de não ser, não merecer Hoje eu pensei em quando havia esperança E todos viram ela ser despedaçada Esmagada Cortada Humilhada Até esvair Mas hoje eu não vou mais pedir Ou chorar Perguntar Nem tentar Hoje eu não quero saber Recomeçar Ou acreditar

qualquer coisa que se sinta

Já estive aqui antes. É difícil descrever, quando parece que todos os sentidos estão dormentes, mas em funcionamento. Existem cores, mas todas dão a mesma sensação que o cinza comum. Não tem qualquer cheiro ou sabor que seja mais atraente. Não existe desejo, alegria ou tristeza. É como a sensação da peridural, só que na alma. Da primeira vez, foi assustador. Dessa vez, já é um pouco familiar, e eu já sabia que estava pra acontecer. Começa com as crises de ansiedade, o desespero, o sufocamento. Depois, é como morrer um pouco, por um tempo, talvez. Sim, a vida não é fácil. Nunca foi. Não, a falta de empatia e compreensão não ajudam. Viver sem existir, um castigo sem culpa. Anulação. Anulação da voz, do ser, do fazer. Meritocracia é lixo. Social, pessoal. E vergonha. Um dia houve força. E vontade. E empenho. Uns nascem primeiro. Outros viram sombra. O problema é que o sol se põe.

Sobre ser mãe e padecer no paraíso

Hoje li um texto sobre o Lado B da maternidade, e fiquei pensando... Sim, é maravilhoso. Sim, eu sempre sonhei em ser mãe, desde que me lembro, e isso ultrapassava qualquer sonho de véu e grinalda. Eu simplesmente sempre tive um instinto maternal muito forte. Não sei se até que ponto a construção social me influenciou nisso, e até que ponto isso foi inato, só sei que sempre sonhei em ser mãe. Qualquer pessoa que tenha me conhecido com meus filhos bebês pode comprovar isso: era nítido que aquilo era um sonho realizado. Na última faculdade que cursei (e larguei), ouvia as pessoas dizerem que minha família parecia uma família de "propaganda de margarina". E eu nunca soube dizer o quanto aquilo era problemático, até me separar. Fato é que não existem famílias de propaganda de margarina. Não existem sequer momentos de famílias de propagandas de margarina, por mais deliciosa que seja a maternidade. Falo com toda a sinceridade que, pra mim, a experiência de amamentar foi tão gos