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19 x 29

Há pouco tempo atrás me perguntaram o seguinte: se eu pudesse escolher voltar 10 anos atrás, voltaria? Confesso que cheguei a pensar um pouco na possibilidade. Há dez anos, não tinha casado- nem me separado -, não tinha tido meus meninos, era adolescente (em uma fase ótima, diga-se de passagem), metabolismo lindo... Mas isso não levou dois minutos. Não, não voltaria. 
Se tivessem me perguntado alguns meses antes, talvez eu tivesse demorado mais pra responder. 
É que essa idade dos 29, por alguns meses, pesa um pouquinho. Chegar bem perto dos 30, acho que pra nós, mulheres, tem toda uma carga emocional. É parecido com fazer 18 anos, mas de uma forma diferente. 
Claro, como tudo na vida, tem seus prós e contras. E a gente, por um tempo, acaba pensando mais no lado negativo da balança. Metabolismo mais lento, fiozinhos brancos, umas ruguinhas aqui, outras ali... Manchinhas de sol, blablabla... Bom, eu sou otimista por natureza, acabei me apegando logo ao lado positivo.
Hoje, não me troco por mim aos 19 de jeito nenhum. Foi uma fase ótima, linda, não me arrependo de nada, e nem mudaria nada. Mas passou. Sou muito grata ao tempo, às pessoas que passaram pelos meus 19. Mas com 19 eu era uma menina, que experimentava, que explorava e buscava. Era uma solteira convicta. Era um pouco mais sensivel que hoje, talvez. Era a minha fase, e era a minha verdade naquele momento. Graças a Deus sempre fui muito verdadeira comigo mesma de viver exatamente o que eu sou em cada momento, sem me preocupar com os outros. 
Acho que justamente por nunca ter me preocupado com esses outros e ter vivido a minha própria vida, hoje posso dizer que sou uma mulher bem resolvida, e isso não troco por nada. Tenho, sim, meus conflitos como qualquer outra pessoa. Mas sou muito verdadeira comigo e com quem quer que me relacione, e não tenho necessidade de usar qualquer máscara ou artifício com ninguém. 
Jamais finjo ser o que não sou, ou querer algo diferente do que quero. Não falo diferente do que penso, e da minha boca ou dos meus dedos, jamais saem palavras pra ludibriar qualquer um. Não perco meu tempo com esse tipo de coisa, e lamento profundamente se alguém perde o seu tempo comigo pra fazer isso, porque, pra isso, eu nem me esforço pra compreender ou perdoar. Do mesmo jeito que eu, gosto de gente bem resolvida, porque de crianças na minha vida bastam meus filhos e sobrinhos, são as únicas pra quem tem lugar. E, na minha família, a gente sempre foi ensinado a falar a verdade. 
Essa coisa de saber bem o que se quer e o que não se quer, isso a gente não tem aos 19. Hoje eu sei exatamente o que eu não quero na minha vida, e abro mão tranquilamente do que não me serve mais. Hoje eu sei dizer não e manter. Sempre fui dura na queda e sempre enfrentei meus problemas de frente, mas hoje lido bem melhor com eles. Enfrento dores, dissabores e perdas de cima da minha sapatilha, porque, apesar de 1,55(e meio!), não uso salto - mas com muita dignidade. Poucas coisas me dão medo, hoje em dia, e se tiver alguma coisa que me assuste, ainda assim eu vou enfrentar, porque sei que é o jeito. Nem tamanho de gente eu tenho, mas tá pra nascer a pessoa que vai me botar medo se mexer com alguém que eu amo. Pior se for com um dos meus meninos, aí, honey, eu perco a noção do perigo. 
Claro, além disso, sou menos sensível também. Tenho lá minhas cicatrizes e não é mais tão facil assim de se chegar no coração. Mas acho que isso é normal, depois de um tempo. A gente aprende a cair menos e se preservar. E tem sempre uma hora que a gente não consegue. 
Pois bem. Além disso, eu sei o que quero. Se ainda não sei, decido na hora, porque confio na minha intuição, sempre. E se eu errar, assumo minhas consequências, de boa. E não gosto de indecisão. Ou vai ou racha. Comigo é assim. Titubeou demais, não vai rolar, darling. Sou dessas que diz assim "Vamo pegar a estrada?", e espero que a pessoa se empolgue tanto quanto eu e vá. Se pensar demais, bom, acho que a gente não combina muito. Não sou morna, nem um pouco, e nem dou certo com gente assim. Sou intensa nessa vida, e o superficial me dá preguiça. Quer superficial, vai nadar num laguinho, não chega nem perto de mim. 
Claro que isso tudo é muito pessoal. Tem quem se amarre numa vida mais pacata e tem quem não precise de tanta definição assim. Essa sou eu. Eu gosto de algumas coisas bem definidas. Não tenho tempo pra perder, porque meus segundos são muito preciosos, já que eu decido e faço as coisas em segundos. Me agonio fácil demais. Eu poderia facilmente decidir ir, sei lá, pra Nova Zelandia daqui 3 meses, se eu achasse que valeria a pena. 
Pra quê eu voltaria pros 19? 

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