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Mergulhando pra dentro de si

Um dos pontos positivos dos momentos de surtos é o mergulho profundo que a gente faz pra dentro de si - aquela olhada que, em momentos de condições normais de temperatura e pressão a gente não consegue ver tantas coisas com tamanha atenção e reflexão.
No meu caso, que falo demais e tenho necessidade de elaborar cada novo pensamento, cada idéia, cada acontecimento, descoberta, teorias, enfim... tem um probleminha, que acaba se tornando um problema um pouco maior nesses momentos: minha cabeça vira um livro aberto pra quem quiser ler - basta sentar no banquinho mais próximo que tiver disponível e abrir na página que quiser, que eu, automaticamente, vou ler, espontaneamente, linha por linha, parágrafo por parágrafo, sem o menor pudor, sem a menor desconfiança, e na maior ingenuidade. Não, eu não sou ingênua. Eu simplesmente não me escondo, e por não me ocupar da vida dos outros, às vezes esqueço do comportamento deles, ou coisas do tipo.
O caso é que, claro, nessas, a gente vai crescendo mais, caindo, levantando, aprendendo mais, quebrando a cara, aprendendo um pouco mais... e assim vai.
Hoje eu consigo perceber que existem pessoas legais de vários "tipos", mas nem todas podem ser tão próximas assim. Algumas simplesmente não vão entender umas às outras, porque são diferentes demais, e vivem em mundos muito distantes.
Pra mim, que me considero uma pessoa livre, é bem complicado de entender esse negócio de "julgar". Acho que, tudo bem, as pessoas são diferentes e considero bem mais simples manter-se distantes quando as diferenças são grandes demais. Acho que dá pra respeitar assim e beleza. Mas, infelizmente, nem todo mundo pensa assim. Algumas pessoas simplesmente tem a necessidade de recriminar determinados comportamentos, não conseguem somente não se sentirem confortáveis naquilo e não quererem aquilo pra si - querem achar que aquilo que o outro faz é ruim, errado, feio e o escambau. Claro, tem coisas que prejudicam alguém, machucam, tiram a vida. Porém, tem outras, que não. Enfim...
Atualmente vejo que, por mais que eu tenha essa característica de ser transparente pro mundo no meu ser, nem sempre posso ser assim, mais por uma questão de auto preservação, não da imagem, claro, mas daquilo que eu normalmente prefiro deixar pra última instância, que é a parte emocional. Nem todos podem ouvir tudo, porque por mais que eu confie e tente ouvir sempre sem pré-julgamentos, geralmente não é assim que as pessoas nos ouvem, de forma que a gente acaba se machucando nessas coisas de falar demais... Na verdade, pouquíssimos tem condições de ouvir e participar de tudo.
...E eu sempre volto praquele trecho da música de Cazuza...

"Eu tô cansado de tanta babaquice, tanta caretice, desta eterna falta do que falar..."


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