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Sobre a morte

Pra mim, a morte não se resume a uma experiência física, onde o corpo da pessoa para de funcionar. Não. Algumas pessoas simplesmente morrem na minha vida, e continuam a andar por aí. Outro dia me falaram que precisamos perdoar as pessoas. Já há algum tempo eu me livrei desse dogma cristão do perdão. Não. Eu não tenho obrigação de perdoar ninguém. Não sinto a menor necessidade de perdoar quem me machucou, quem me sacaneou, quem foi escroto comigo, ou quem ultrapassou os meus limites. A pessoa morre pra mim, e é isso. Claro que não é algo que acontece sem dor, na maior parte das vezes. Algumas vezes, dói muito. Outras, um pouco. Ou, dependendo das circunstâncias, não dói - simplesmente acontece. 

Sempre me deixei sentir tudo ao máximo. Do melhor ao pior. Então, eu, obviamente, posso sofrer imensamente por uma morte, por um período. Depois, isso acaba, e é como se a pessoa tivesse existido em outra vida, muito distante. Não sinto saudades, não guardo carinho, rancor ou o que quer que seja. Simplesmente fica no passado. 

Talvez eu seja um pouco nova pra dizer "nunca mais" ou "definitivamente". Porém, até hoje, não me arrependo de nenhuma dessas "mortes". As pessoas se vão, e, de alguma forma, elas são deletadas do meu coração. Sem remorso, sem saudade, sem olhar pra trás. 


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