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nothing happens by chance

Há pouco mais de um mês tenho convivido com uma faixa etária "um pouquinho só" abaixo da minha, e tem sido um exercício interessante. Tenho construído novas e boas amizades, e trocado experiências. Ganhei um novo apelido, e um dos meus novos amigos sempre brinca que eu sou "um robô" - uma forma de brincar com o fato de me achar muito "durona".
Apesar de ser intensa, acho que o número de decepções e quedas no meu caminho me fizeram ir escolhendo onde depositar essa intensidade. Já não é mais experimentação. A gente cresce, e aprende a saber o que gosta e não gosta, o que quer e não quer. Claro que, como já foi dito, nem tudo são flores. 
Assim, tem também a parte ruim que o tempo traz. Ou, nem é o tempo. A gente mesmo que não consegue colocar na bagagem só a parte boa do aprendizado - ficam as cicatrizes, uns quelóides aqui e ali, uns pontinhos mal feitos, que vez ou outra insistem em inflamar... E tem aquelas tranqueiras que a gente sabe que deveria ter jogado fora, porque só ocupa espaço, mas, de teimosa, deixou ali mesmo, porque, vai que...
E a bagagem é meio pesada mesmo. Não é à toa que, com o tempo, alguns de nós se tornam meio "durões" mesmo. Não é qualquer coisa que chega lá nesse tal de coração. E, de repente, eu chego aqui, e me deparo com uma galera que acabou de entrar na casa dos 20 - todo mundo com aquela sede de amar, de se jogar de cabeça. E eu lá no outro extremo...
Eu fico aqui me explicando. Falando o que me tornou assim. Quando ouço um coração partido, explico quantas promessas não cumpridas já ouvi, quantas noites inteiras chorando já passei, ou quantos porres já tomei. Conto daquele dia que ouvi palavras cruéis e engoli em seco, jogando minha dignidade lá no subsolo, conto daquela mudança repentina em menos de 12 horas, conto de uma conta telefônica imensa quando eu tinha, sei lá, 13 anos... e todas as vezes em que partiram meu coração, tive que recolher os cacos, e esperar ele cicatrizar. Conto daquela pessoa do passado em que depositei toda a minha confiança e esperança, pra depois ter meu coração já todo fodido despedaçado novamente... e tento explicar o motivo de ser importante preservar o nosso coração, pra ele não ficar assim, duro, meio empedrado. Mas, não adianta... nessa fase, ele pulsa uma vida que eu já nem lembro mais. Parece que foi em outra dimensão.
É como um choque térmico pra mim. São dois extremos opostos. Eu ouço os outros moradores, e amigos de moradores que vêm pra cá, e ouço coisas como "ela é a mulher da minha vida", "ela é o amor da minha vida", "eu nunca senti isso por mais ninguém", "eu vou esperar o tempo que for"... e me pergunto quando foi que eu perdi essa pureza, essa ingenuidade no amar, no sentir, no se apaixonar. Eu sei que, a cada decepção, a gente perde um pouco disso. É triste, muito triste. Principalmente pra quem é intenso e se entrega demais, e faz tudo ao seu alcance pra dar certo. E, muitas vezes, me pergunto quantas vezes eu fui quem fez isso a alguém. Quantas vezes eu tirei um pouco esse brilho do olhar de alguém, e se isso se recupera, porque eu temo que não. Apesar de todo o meu otimismo pra vida em geral, não sou uma otimista pra vida amorosa, confesso. Sou romântica por natureza, e desgosto de livros, romances, filmes que tem um final triste. Acho que a vida real já tem finais tristes demais. Gosto de me apaixonar em romances. Mas, na vida, não tenho esse otimismo todo, apesar de ser uma pessoa super legal (viu, gente?).
Aqui em sp, também, conheci uma pessoa muito bacana, que tem uma frase tatuada: nothing happens by chance. Também não acredito no acaso (coincidência?!). E, apesar de toda essa essa dureza do meu coração, me encanta essa forma de sentir dos meus novos amigos. A parte realmente intrigante, pra mim, é que essa foi a primeira república que eu olhei nas minhas pesquisas (1 mês antes de eu mudar), despretensiosamente, olhei mais de 20 depois, mas, no final, acabei ficando aqui mesmo.

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