Era pra ser uma história de amor única, engraçada, fofa, dessas de filme...era pra ser a "nossa" história. Daquelas que a gente contaria depois de uns anos pros amigos, numa mesa de bar, e depois nos olharíamos com aquele olhar de cumplicidade, que mistura amor, paixão, carinho, e amizade, que só os casais que vivem um amor louco e verdadeiro entenderiam.
Era pra sermos desses casais de livro. Esses casais que se completam e combinam, que vivem na estrada, uma estação em cada cidade, sem raiz, sem amarras. Daqueles que topam qualquer parada, só pelo prazer de viajar. Era pra gente se curtir demais, eu ia ser sempre a sua princesa, lembra? E você, enquanto o pra sempre durasse... Ah!... Dessas histórias de livro que, de tão intensas, viram filme. E são tão boas, que o "pra sempre" tem um fim, e, ainda assim, teria valido a pena, pelas lembranças lindas, pelas fotos na memória (porque você não gostava de tirar fotos, dizia que se perdia tempo assim), pelos cheiros na lembrança, e o seu sorriso me esperando do outro lado da rua, com a barba sempre por fazer. Aquela barba, que nunca me atraiu, mas em você, tinha alguma coisa que me prendia.
Era pra gente preencher um mapa inteiro, com tachinhas, ou marca texto, ou só no papel escrevendo as cidades. Eu queria rodar o mundo, você se amarrava no litoral, e enquanto o amor durasse, eu armaria uma barraca e seguraria na sua cintura.
Mas, não. Eu jamais colocaria um cinto ali pra me segurar, eu te abraçaria, enquanto houvesse amor. E era simples, era fácil, era bom.
Eu, que vivia bem sem um coração, até você vir, com aquele jeito de quem não quer nada, e me devolvê-lo, como se tivesse fazendo um bom gesto. Me devolveu, com mil promessas, sem que eu te pedisse nenhuma. Me devolveu-o, e com vida, e colocou música dentro dele, e ainda cantou pra me ninar, e me colocou na sua cama, dizendo que aquele lugar seria só meu, e só pra mim você cantaria.
Mas, não. Eu não pedi nada disso. Eu não peço nada disso. Eu só peço o que eu posso dar. E como eu poderia oferecer qualquer coisa, sem coração? Mas você veio, sem aviso, sem licença, sem cerimônia. Se instalou, se encaixou, me encaixou. Me pegou no colo, e me fez vulnerável.
Eu que sou dura, sou pedra, e não preciso de ninguém.
De repente, sem qualquer aviso, a música gritou. Ela não era mais suave, e nem era só pra mim. Ela não era mais pro meu coração - era pra uma platéia. E, sem que eu me desse conta, eu tava no meio de uma multidão. E era isso. Não foi no tempo de eu ir ao banheiro ou coisa do tipo. Não. Você me disse que as coisas estavam no mesmo lugar. Eu estava no mesmo lugar. E você também. Sim. A sua voz era a mesma, e a melodia também. E, sim, infelizmente, aquilo ainda me fascinava, porém, dessa vez, de um jeito cortante. E eu não fazia idéia que essa platéia apareceria assim, num rompante. Eu jamais poderia ficar ali. Como já tinha te dito: tenho horror à multidão.
Eu tava agarrada na sua cintura, e não queria mais soltar. Era como se, a cada dedo que soltasse, arrancasse um pouco de pele. E doía. Mas a gente acostuma com tudo. Até com a dor. E eu soltei. Porque entre a dor uma única vez e uma dor contínua, eu fico com a dose única, ainda que seja mais intensa. E o seu sorriso, ali na calçada, me esperando, continua, a cada vez que eu abro a porta. Mas, claro, vai sumir. E, bom, tanto faz. Você não tá realmente ali. Quem escolhe uma platéia, na verdade, prefere não escolher ninguém de verdade, seja pelo motivo que for. E eu respeito. Ainda que um dia eu tenha ouvido tantas coisas ao contrário.
Mas a incoerência das pessoas sempre vem. E eu já não me importo mais com os porquês. Se ontem eu era única, e hoje eu virei mais uma, o porquê, tanto faz.
Se era mentira, se era loucura, se era stella ou maria joana... Tanto faz.
E o que era pra ser e não foi, também, agora, tanto faz.
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